18 de out. de 2009

"Trem das seis


Existe na cabeça do negro poeta
uma busca de criar o certo
que contenha mais que a pura
beleza do verso
e que assimilável seja
Por outro negro

que se pendura no trem das seis
e vê nas costas, a torre central
não como um rasgo indecente
ou um berro de concreto
que invade os olhos da gente.

Para ele, o edifício
ou os gemidos dos trilhos
Só fazem parte da cena
como o camburão que espreita,
como espantaria ao poeta
o gosto esparramado da pena no papel
ou o fato de uma negra bailarina, resoluta
se negar a um encontro
na porta de um bordel.

A procura persiste
Mistura, verte, verbos, versos tristes
Para descobrir que tem muito a aprender
Da dialética maior que existe,
E se esconde toda a placidez das marmitas
Que voltam cansadas da vida
Todos os dias
No trem das seis.”
José Carlos Limeira

15 de out. de 2009

Ser e não ser

O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não que é sim.
É assim o Brasil
ou não?


Oliveira Silveira

Quilombos

"Por menos que conte a história
não te esqueço meu povo
se Palmares não existe mais
faremos Palmares de novo"

José Carlos Limeira

14 de out. de 2009

Produção literária afrobrasileira



"A construção de uma descendência textual afro-brasileira passa pela compreensão de que as identidades são constituídas no discurso, mas forjadas nos embates entre grupos que se identificam com molduras ideológicas diferenciadas, buscando, no caso dos subalternos, reverter hierarquias, representações e significados. Em vez de uma formação fixa e imutável, as identidades devem ser entendidas como estratégias resultantes de desejos ou interesses de filiação a grupos específicos e, portanto, elas são sempre passíveis de reestruturação."


SOUZA, Florentina. Solano Trindade e a produção literária afro-brasileira. Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/31_14_solano.PDF.

13 de out. de 2009

Literatura negra

"O corpo negro vai ser alforriado pela palavra poética que procura imprimir e dar outras re-lembranças às cicatrizes das marcas de chicotes ou às iniciais dos donos-colonos de um corpo escravo. A palavra literária como rubrica-enfeite surge como assunção do corpo negro. E como quelóides – simbolizadores tribais – ainda presentes em alguns rostos africanos ou como linhas riscadas nos ombros de muitos afro-brasileiros – indicadores de feitura nos Orixás – o texto negro atualiza signos-lembranças que inscrevem o corpo negro em uma cultura específica."


EVARISTO, Conceição. Literatura negra: uma voz quilombola na literatura brasileira. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/aladaa/evaris.rtf

10 de out. de 2009

Racista

Antes de tudo, é um câncer o racismo!
Deletério, corrompe e degenera
o tecido saudável do organismo
da sociedade, em plena primavera!

O racista é feroz como pantera!
Enjaulado em seu ódio, sem cinismo,
ele, a tudo destrói e o faz por mera
satisfação que vem do seu egoísmo!

Todo racista é um ser usurpador!
É um psicopata algoz! É um destruidor
da liberdade e da ventura alheia!

Por isso mesmo, em poder rasteiro,
é repudiado pelo mundo inteiro
mundo, talvez, que só o racista odeia!

Eduardo de Oliveira
"A poesia pode ser um meio de desabafo, desaforo, diversão, desacordo e desconstrução do mundo em que vivemos"
Claudia Walleska